Explorando a legalidade, saúde e moralidade de interações
com falecidos. Para uns conforto emocional, para outros negação da realidade.
Da Redação✍
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Imagem: Foto de Pavel Denilyuk |
O uso da IA para "conversar" com os mortos provocaria efeitos colaterais significativos nas pessoas. Alguns podem sentir conforto e alívio emocional ao trazer à lembrança memórias, permitindo um espaço para o luto e a saudade; por conseguinte, essa prática também conduziria a uma negação da realidade, um apego excessivo ao passado. Há um grande risco de dependência dessa tecnologia, especialmente em momentos de vulnerabilidade emocional — a diferença entre o concreto e o virtual pode virar um problema de consequências psicológicas negativas.
Ao considerar a legalidade dessa prática, é essencial examinar questões de propriedade intelectual e consentimento. A utilização de dados pessoais de falecidos para alimentar algoritmos de IA pode violar a privacidade e os direitos de defesa, dependendo da lei em vigor. Por exemplo, e se um ente querido preferisse antes manter sua vida privada após a morte? Isso deve ser respeitado. A falta de uma legislação clara sobre a utilização de dados de pessoas, para fins de IA, pode levar a abusos e dilemas éticos que têm de ser resolvidos.
Famosos pensadores e especialistas divergem sobre o uso da IA nesse contexto. A psicóloga Elizabeth Kübler-Ross, conhecida por seus estudos sobre o conjunto de reações de perdas significativas, advertiu que interações artificiais impediriam o processo natural dos enlutados. Em contraste, o futurista Ray Kurzweil acredita na ajuda dessa tecnologia para uma pessoa alcançar um tipo de imortalidade digital e interagir com suas lembranças. O filósofo Yuval Noah Harari, no entanto, argumenta que a IA manipularia as emoções humanas, e essa prática tanto pode reconfortar quanto contribuir para agravar uma situação.
Com a IA, a interação entre os vivos e os mortos representa uma nova forma de lidar com a dor da perda e, neste caso, devem ser tidas em conta certas escolhas. Por exemplo, muitos terapeutas incentivam práticas de luto que não envolvem tecnologia, como manter um diário ou compartir em grupos de apoio. Estas abordagens podem oferecer um espaço saudável para as emoções se expressarem e se concluírem sem dependerem de sistemas digitais. Além disso, a prática de rituais culturais e espirituais costumeiros pode ser uma maneira poderosa de honrar um ente amado falecido.
Na prática, deve-se abordar o uso da IA para interagir com entes queridos do além com cautela, monitorada e regulada quanto às interações sem substituir a necessidade de um luto de maneira saudável. A educação sobre o impacto emocional e as consequências legais devem ser prioritárias. Incentive as pessoas a pensar em suas intenções ao usar essa tecnologia e avalie se realmente traria alívio ou complicaria um processo de cura necessário.
Conversar com os mortos através da IA encerra várias coisas ou ideias. Embora console a alguns, também apresenta, segundo especialistas, riscos éticos, legais e emocionais. A tecnologia avança, é preciso que a sociedade possibilite um diálogo aberto sobre suas implicações e crie um ambiente favorável à saúde mental e o respeito pelos direitos dos falecidos. Uma abordagem cautelosa e bem informada pode transformar essa experiência em algo enriquecedor para a vida das pessoas, em vez de criar dificuldades no seguimento do período enlutado.
© 2023-2024 Notícias & Novidades - Todos os direitos reservados
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